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terça-feira, 6 de agosto de 2024

#5 - O Monstro da Lagoa Negra: Creature from the Black Lagoon - 1954



O último monstro clássico a entrar para o panteão dos imortais e atemporais monstros dos estúdios da Universal, o filme de 1954 tem muitas camadas além das quais muito possivelmente você já saiba e, hoje é disso que falaremos. 

 Seja bem-vindo(a) ao meu blog, o "Brog do Pabro"!!

Breve sinopse:

(E bota breve nisso...😅)

Na Amazônia brasileira o pesquisador Carl Maia descobre uma nadadeira fossilizada de um espécime desconhecido. Após reunir informações, Carl viaja para conseguir verbas para pesquisar sobre sua descoberta e ao retornar ao local onde ela aconteceu, seus ajudantes haviam desaparecido. O fóssil se revela  um possível elo perdido entre homens e anfíbios. 

 O pesquisador ruma com sua equipe para um lugar mais reservado daquela região, conhecido como "Lagoa Negra", onde retoma sua pesquisa e acaba por encontrar uma terrível criatura.  (Não daremos "spoilers" sobre o filme, sugiro que o veja pois é um clássico que vale muito a pena!

                                                                                                                                                                      



                                               (arte original de divulgação do filme - Pôster)  
O Mostro da Lagoa Negra foi um filme que trouxe a Universal Studios de volta às origens. Depois de praticamente esgotar o tema "Monstros" após anos explorando o gênero com "coisas" como O filho de Frankenstein (1939), Frankenstein encontra o Lobisomem (1943) e etc... e com isso ver sua bilheteria reduzir a cada lançamento, A Universal havia passado por mudanças que levaram a empresa a ter novo foco. Depois de se unir à Decca Records em 1946, na verdade a Universal foi comprada pela Decca e começou a se chamar Universal International e ter uma profunda reestruturação, a Universal Studios passou a produzir majoritariamente longas do gênero Drama e Drama romântico. Aos poucos a Universal Studios voltou a recuperar a essência de seu DNA e resolveu voltar a investir em filmes de Monstros. Filmes ligados à ficção científica/horror voltaram a ganhar espaço entre seus lançamentos. Guerra entre Planetas (1955), O Planeta Proibido (1956) entre outros... e foi "O Monstro da Lagoa Negra" (Creature from the Black Lagoon) que teve o maior destaque.
 Com roteiros de Harry Essex, Arthur A. Ross e Maurice Zimm, o filme tinha no elenco a atriz Julie Adams (elenco completo no final da postagem), cuja beleza servia como atrativo para levar o público masculino aos cinemas. Na época (e até hoje em dia... infelizmente...) as mulheres eram escaladas para certos papéis não prioritariamente por seu talento, mas por sua beleza. No caso da "Criatura", a beleza da jovem Kay Lawrence (papel de Julie Adams) acaba influenciando diretamente na trama, causando na "Criatura" sua paixão "platônica". 
 Mas o filme traz também uma "personagem" muito interessante e que sequer aparece em frente às câmeras... falaremos dela em breve. 😉  

                                                                                                                                                                     

Origem...




 A ideia para a criação de um roteiro para o filme "O Monstro da Lagoa Negra" surgiu quando o produtor William Alland estava em uma festa durante as filmagens de "O cidadão Kane" (filme em que Alland interpreta um repórter) quando o cineasta mexicano Gabriel Figueroa lhe contou sobre o mito de uma espécie de homens peixes que, segundo este mito, habitavam o rio Amazonas. Daí nasceu um "tratamento" (rascunho que, se aprovado, é desenvolvido e acaba dando origem ao roteiro).
 O roteiro não foi escrito de imediato, aproximadamente 10 anos após ouvir sobre o tal mito dos homens peixes, William Alland passou a rascunhar anotações sobre uma história que era inicialmente intitulada "O  Monstro Marinho". 
 A ideia para a criação do tratamento/roteiro foi inspirada em contos de fadas como A Bela e a Fera e também em King Kong e consistia em um amor platônico entre uma criatura bestial e uma mulher humana. Um  filme de horror com pitadas de um "romance" entre criaturas de espécies diferentes onde você de certo modo torce ou ao menos se "compadece" pelo "casal" já não era novidade àquela época, mas é um tema interessante até os dias de hoje. Não à toa Guillermo del Toro dirigiu em 2017 o longa "A forma da água" em 2017, filme claramente inspirado em "O Mosntro da Lagoa Negra". 

                                                                                                                                                                  

A Criadora

 Era normal naquela época...
...que apenas o chefe de cada setor fosse creditado ao final de uma obra, juntamente com os atores e atrizes, logo não era comum que se soubesse o nome de cada pessoa envolvida na criação de cenários, maquiagens, figurino, continuidade, produção, etc... Isso fez com que durante muito tempo algumas pessoas levassem todo o crédito pelo trabalho duro de outras pessoas. Tá, sabemos que isso acontece muito ainda hoje em dia, em muitas empresas onde o chefe de seção muitas vezes recebe sozinho os louros das conquistas e repassa os esporros das derrotas, mas nos atenhamos ao que interessa... 
 Quando os chefes da Universal resolveram bancar a produção de "Creature from the Black Lagoon", começou-se a trabalhar no visual do monstro. Como deveria se parecer um monstro metade peixe, metade hominídeo?! A criadora desse e de alguns outros monstros foi Milicent Patrick. Milicent Patrick (Mildred Elizabeth Fulvia di Rossi), nascida em El Passo em 11 de novembro de 1915, filha de um competente arquiteto chamado Camile Charles Rossi e sua mãe era chamada Elise Albertina Bill. 
 Milicent Patrick estudou artes e trabalhou no setor onde se coloriam os desenhos nos estúdios Disney, depois de mostrar sua competência, foi promovida a animadora, sendo uma das primeiras mulheres a trabalharem lá, nesta função. Na Disney, Milicent trabalhou na animação "Fantasia". 
 No início dos anos 50, Milicent chegou à Universal em pequenos papéis como figurante e também trabalhando como maquiadora, e foi aí que ela chamou a atenção de Bud Westmore, chefe do departamento de maquiagem e membro do clã Westmore, uma família conhecida no show business pelo poder que tinham relacionado ao mundo dos penteados, maquiagem e beleza feminina no cinema. Bud teria visto Milicent trabalhando na maquiagem de atrizes enquanto supervisionava sua equipe e viu alguns de seus desenhos e gostou de seu trabalho.
 Para a criação da "Criatura" (O Monstro da Lagoa Negra), Milicent apresentou alguns desenhos que Westmore aprovou e mandou para o departamento de modelagem. Assim que a Criatura ficou pronta, Westmore assumiu para si todos os créditos pela criação. 
 Para divulgar o lançamento do filme que trazia de volta a Universal para o "universo terror" e ao mesmo tempo era uma promessa de se tornar um monstro clássico (oque se confirmou com o tempo), a Universal investiu pesado. Bolou uma campanha de divulgação por vários lugares do país! Banners, pôsteres, desfiles em carro aberto... e também resolveram explorar a imagem de Milicent e atrela-la aos bastidores. O pessoal do marketing resolveu realizar workshops onde Milicent contaria um pouco sobre a criação da Criatura, mas para isso precisaram falar antes com Westmore, chefe de Milicent. Westmore se sentiu ameaçado pois sabia que cedo ou tarde Milicent poderia reivindicar para si o justo reconhecimento pelo trabalho, mas acabou cedendo a pressão e a liberou por 2 semanas para viajar com a equipe. A turnê de divulgação se tornou um sucesso e foi ampliada, durando 2 meses!! Uma mulher linda e plena falando sobre sua criação com a autoridade de quem conhece e sabe do que fala! Não poderia ser melhor! Bolaram aparições da Criatura em rios onde eventos eram marcados mas sem avisar que a Criatura apareceria, Milicent tinha sempre a mão umas máscaras da Criatura que ela usava para explicar em palestras como ela havida sido feita. Quem não gostou nada foi Westmore. Mesmo tendo colocado um homem de sua confiança para vigiar Milicent e mesmo esse homem garantindo que Milicent jamais disse que ela havia sido a criadora de tudo aquilo, Westmore estava ferido em seu ego e decidido a tomar providências. 
 Westmore passou a falar de Milicent e diminuir sua importância e pediu a cabeça de Milicent sob condição de que caso ela não fosse demitida, Westmore iria embora com toda sua equipe. A Universal dava muito valor ao sobrenome Westmore, como uma "marca confiável" e acabou cedendo à chantagem desse homem mesquinho. Milicent retornou certa do sucesso de ter feito um excelente trabalho e ao retornar, foi demitida. Mesmo com a promessa de Westmore que a receberia de volta, após a turnê de divulgação do filme. Milicent ainda permaneceu fazendo pequenas aparições em filmes da Universal, mas o trabalho que ela tanto amava, ela já não tinha mais...  
 Quer conhecer a história dessa mulher incrível, muito a frente de seu tempo? Vida pessoal, romances, conquistas, dores... recomendo o livro "A Dama e a Criatura" de autoria de Mallory O´Meara (lançado aqui no Brasil pela Darkside Books). Um livro escrito de forma apaixonada de uma fã real da Criatura que acabou descobrindo a mulher por trás do monstro, atrás de uma pesquisa admirável e exastiva, mas que rendeu um resultado maravilhoso. Eu me apaixonei por Milicent assim que li o livro e adoraria ser amigo de Mallory O´Meara, deve ser uma pessoa muito bacana! 



Fotos da turnê de divulgação do filme "Creature from the Black Lagoon" Milicent Patrick com um esboço e também com uma máscara da Criatura. 

                                                                                                                                                                  


A Criatura


 Falamos um pouco sobre a origem da estória, sobre como a Criatura fora criada e também demos o devido crédito a quem de direito pela criação do visual do nosso "herói", então, vamos mostrar quem deu vida a ele! Não, ele não foi erguido por uma abertura no telhado em uma tempestade de raios e atingido por uma descarga elétrica que lhe trouxe à vida enquanto um cientista berra a plenos pulmões "It´s alive! It´s alive" (pegou a referência, né?! 😁😉
 Vamos mostrar quem interpretou a Criatura:
Para interpretar a Criatura em cenas "secas" (ou seja, fora d´água) foi utilizado o ator Ben Chapman e para cenas subaquáticas quem fez o trabalho foi Ricou Browning, que tinha muita habilidade para nadar e  usar a fantasia debaixo d´água, uma vez que a roupa se molhava e mais que dobrava de peso e a máscara tornava impossível o simples ato de enxergar. 
 Então o trabalho ficou dividido assim: Ricou Browning nadava muito bem e fez cenas na água, Ben Chapman tinha quase 2m de altura e era mais intimidador por ser enorme, fez cenas na terra. Bem escolhido. 



À esquerda temos Ben Chapman ao lado de Julie Adams (Kay Lawrence no filme) e à direita, Ricou Browning

                                                                                                                                                                  

Elenco

Julie Adams................................................................................................ Kay Lawrence 
Richard Denning........................................................................................ Mark Williams
Richard Carlson......................................................................................... David Reed
Antonio Moreno......................................................................................... Carl Maia
Nestor Paiva............................................................................................... Lucas
Whit Bissell................................................................................................. Dr Edwin Thom
Bernie Goziel............................................................................................... Zee
Henry Escalante........................................................................................... Chico


                                                                                                                                                                   


Com o passar dos anos, curiosidades, citações, homenagens e produtos que exploram a Criatura apareceram de muitas formas para todos os gostos e esse espaço ficou dedicado a alguns poucos itens. Bora conhecer?! 




 Em 1994, a Capcom (empresa de vídeo games) lançou um jogo do gênero "Luta" que trazia monstros que caiam na porrada entre si, cada um em busca de um objetivo próprio a ser revelado ao final do jogo, caso você conseguisse derrotar o último chefe. Havia um lobisomem chamado Jon Talbain, um vampiro chamado Demitri Maxmoff e mais um monte de monstros que não vêm ao caso (se você gosta de jogos de luta, da uma pesquisa no google, o joguinho é bem bacana e possui várias sequências), oque interessa aqui para nós é o fato de haver um homem-peixe que mora na Amazônia brasileira e seu nome é Rikuo!! Uma justa homenagem à Criatura e ao ator Ricou Browning. Eu gostei demais quando peguei a referência! 😊



 Com o passar do anos, a Criatura fez algumas aparições como esta no filme "Deu a louca nos Monstros (The Monster Squad - 1987). Nota-se mudanças em sua aparência, mas a Criatura se fez tão imponente da forma como fora originalmente criada que mesmo com mudanças, muito do original foi mantido. 



 Muitas empresas produziram action figures (hominhos, como diz uma amiga que gosta de me infernizar com isso 😡😂😂) da Criatura, então os fãs estão bem servidos de farto material. Empresas como a Funko, Neca, Mezco e essa da foto foi feito pela Diamond Studios. (A prancha não acompanha a figura, originalmente essa figura vem com um diorama e a figura de Kay Lawrence, conforme vocês verão mais à frente, na última foto postada aqui)


Eu particularmente já vi muita coisa no universo dos "colecionáveis" e itens raros de figuras de ação, mas essa aqui, Milicent e sua criação! Fizeram uma action figure desse momento!!  





                                                                                                                                                                    

Fontes de Pesquisa


 Na verdade eu nem posso chamar isso de pesquisa, o trabalho todo quem fez foi Mallory O'Meara ao escrever seu livro "The Lady from the Black Lagoon", nos trazendo uma biografia póstuma de Milicent Patrick, uma artista incrível que viveu muito à frente de seu tempo. Tudo que fiz foi sorver desse livro todo o conhecimento que ele pôde me oferecer e dar uma resumida boa para trazer para vocês, que gostam de saber um pouquinho de coisas de cinema, cultura pop e afins, um pouco do trabalho dessas duas. Milicent Patrick a artista e Mallory O'Meara , a escritora que nos proporcionou esse deleite. 
 Para quem quiser saber mais sobre Milicent, vou deixar o nome do livro (de novo, porque já fiz isso lá em cima): A Dama e a Criatura - Autora Mallory O'Meara, publicado no Brasil pela Darkside Books (www.darksidebooks.com.br) (Ah, nem é propaganda, tá?! É só dica mesmo. 😉)






 Autora do livro (Mallory O'Meara) e a capa original do livro





 Versão em português do livro lançado pela Darkside Books no Brasil em 2022 (livro e figura de ação de meu acervo pessoal )


 Esse foi o post do Brog do Pabro. Depois de um bom tempo sem postar nada, trouxe para vocês uma pitada de algo mais profundo que as águas turvas de uma Lagoa Negra ou mais horripilante que qualquer criatura que possa viver nessas águas, uma história real de uma luz apagada à força dentro de um ambiente que deveria ser de criação, celebração da arte e exaltação do belo. Uma história de uma mulher que deu sua importante contribuição ao mundo das artes e por ter mais talento do que seu mesquinho chefe pudesse suportar, fora tirada desse ambiente. Ah, o post traz também um pouco sobre o filme, mas esse assunto acaba servindo de pano de fundo para oque realmente importa: Os verdadeiros monstros somos nós, e o lamaçal onde nos enfiamos é o dia a dia em que vivemos.
 (lembrando que "nós" é uma forma de falar.😉) 
 É isso gente, espero que tenham gostado. 




domingo, 21 de abril de 2024

#4 - Tubarão (Jaws - o filme/ livro)

Tubarão

 

Do livro ao filme, um verdadeiro clássico!

Livro escrito por Peter Benchley em 1974 ("Jaws" no original em inglês) e publicado no Brasil desde 2015 pela Darkside books (com 276 páginas em sua edição brasileira de capa dura, 270 na original em inglês), traz na sua narrativa muito mais que um simples romance onde pessoas são aperitivo para um "Grande Branco" (Tubarão Branco: Carcharodon carcharias). Em 2005 Peter Benchley escreveu uma introdução para futuras reedições de seu livro onde revela seu amor pelo fundo do mar e em especial por tubarões, que considera "as criaturas mais bem sucedidas" evolutivamente falando, (pois são predadores contemporâneos dos dinossauros e estão por aí até hoje...) e ainda que não fazia ideia que seu livro resultaria no sucesso que foi, chegando a se tornar já no ano seguinte um filme que por sua vez também se tronou um sucesso gigantesco e, por fim e o mais triste de tudo... a "demonização" do animal que lhe deu notoriedade. Benchley não se diz arrependido mas lamenta que sua obra tenha exposto tão negativamente um animal maravilhoso.

Aqui faço uma pequena observação: O livro trata de assuntos tão profundos que sequer são citados no filme. Se este não é o primeiro post que você lê por aqui, já sabe que procuro fazer sempre um comparativo entre o livro e o filme, especialmente quando o roteiro é escrito pelo próprio autor do livro (como foi o caso de um de nossos posts anteriores "Pet Sematary"), então lhes convido não para uma viagem qualquer, mas sim para uma ao fundo do mar... tá, tudo bem... é só um mais post do "Brog do Pabro" 















O Livro


Tubarão (Jaws - 1974 no original) 

Nesse "romance" escrito por Peter Benchley, temos uma serie de acontecimentos que envolvem não só um peixe gigantesco e suas possíveis e desavisadas vítimas. Peter Benchley soube dosar muito bem dramas pessoais e também profissionais, humanizando suas personagens. Martin Brody, Chefe de Polícia da cidade veraneia de Amity, na costa sul de Long Island (uma cidade fictícia) tem em suas mãos uma situação que ninguém gostaria de ter. 

Martin Brody decide interditar as praias depois de encontrar oque restou da jovem Chrissie Watkins. Chefe Martin recebe represálias de todo lado, especialmente do prefeito Larry Vaughan, pois a cidade depende da temporada de verão para ter condições de se manter pelo restante do ano (muito comum como em qualquer cidade turística que depende do público "flutuante" para acumular algum dinheiro para os meses de dificuldades) e o feriado do dia 4 de julho estava se aproximando (4 de julho é o dia da independência dos EUA, dia em que a colônia disse "adeus" aos colonizadores ingleses).

O prefeito faz pressão sobre Martin que sem ter certeza de que foi realmente um tubarão e que mesmo sendo, não sabia se o bicho tinha ido embora, acaba cedendo às vontades do prefeito ganancioso e esconde a informação. Dias depois, mais duas vítimas...

Outro drama para Martin. Ele sabia, ele poderia ter evitado mas não o fez... oque realmente ele poderia ter feito? O prefeito poderia tê-lo demitido e em seu lugar, colocado outra pessoa que atenderia suas ordens... Martins lidava agora com o remorso. 

 Em casa, Martin Brody tinha uma esposa dedicada e filhos. Sua esposa Ellen o amava incondicionalmente mas sentia falta da vida que levara antes de conhecê-lo. Ellen foi uma das veranistas cuja família detinha algumas posses que a possibilitavam verões em Amity e antes de se apaixonar por Brody fazia outros planos para própria vida. 

Mas agora, todo verão Ellen sentia-se nostálgica e sentia a necessidade de tentar se enturmar novamente com as pessoas com o nível social que hoje em dia ela já não possui. Ellen já não estava satisfeita com a vida que levava. Mais um problema para o Chefe Brody... 

Martin Brody tinha que lidar com: As famílias enlutadas pelos acidentes com o tubarão, com a dura decisão de interditar as praias às vésperas do maior feriado do ano, com a pressão fora do comum exercida pelo prefeito Larry Vaughan (que por sua vez era pressionado por sócios estranhíssimos que ninguém sabe quem são), com a divisão e a cobrança da opinião pública, com a caçada ao tubarão e resolução do problema e também com um drama pessoal que se desenha aos poucos... 

O livro é maravilhoso! Leitura fluída de fácil compreensão, qualquer pessoal que ainda não tenha desenvolvido um ritmo de leitura mais avançado consegue ler rápido e o amis importante, mantém sua atenção! Você quer saber oque o Chefe Brody vai fazer! Martin Brody tem um perfil raro hoje em dia! É sério, justo, honesto, devotado ao trabalho e à sua família e não usa de seus cargo e sua influência para obter vantagens pessoais. Só voltamos a ver alguém assim quando surgiu Alex Murphy que acabou se transformando no Robocop (filme de 1987). 

 Se você é fã de Tubarão (filme) e nunca leu este livro, leia! Você vai gostar demais! Se você gostou deste livro mas ainda não viu o filme, veja! É uma versão mais simplificada desta obra! Pra quem gosta dos dois, mas faz tempo que não revisita nenhum dos dois, deixo um conselho: Tente reler o livro e só depois reveja o filme, sua experiência será muito mais prazerosa.  

Ah, não... não darei spoilers sobre o livro, nessa resenha já temos elementos suficientes para despertar o interesse de quem quem gosta do tema. 



O filme


Com roteiro adaptado pelo próprio Peter Benchley e auxiliado por Carl Gottlieb o filme começou a ser produzido um ano após o lançamento do livro (livro de 1974, filme de 1975), por Richard D. Zanuck e Davi Brown, com trilha sonora de John Williams e a direção do então ainda jovem e já competentíssimo Steven Spielberg. 

Muitas adaptações foram feitas nas personagens, mas Peter Benchley e Carl Gottlieb tomaram muito cuidado para não descaracterizarem principalmente o Chefe Brody. 

Muito de seus dramas descritos no livro simplesmente não existem no filme. Sua esposa Ellen se tornou uma dona de casa sem a menor relevância na trama, existes trocas importantes de papéis no desfecho do filme com relação a quem "se vai" e a quem "sobra"(quem vive e quem morre, trocando em miúdos), mas podemos afirmar que entre "mortos e feridos" o saldo final é muito positivo.

 O drama de ter que interditar as praias durante um feriado nacional, afetando duramente a economia local continua, mais atenuado, mas continua... algumas mudanças em cenas que acabaram virando clássicas como por exemplo: No livro, ao iniciar a leitura temos a descrição de um casal que após beber demais em um jantar na casa de amigos à beira mar, decide ir à praia. A jovem Chrissie Watkins decide nadar após transar na areia com seu namorado e é atacada. 

No filme, na cena inicial temos um grupo de jovens em uma espécie de "luau" com vinho, fogueira, gaita e violão (adoro... 😏) já quase ao amanhecer e do nada um jovem sorri para  Chrissie Watkins e ambos tem a brilhante ideia de nadar àquela hora. Eles correm ao mesmo tempo em que se despem mas o rapaz está muito bêbado e não consegue acompanhá-la. Chrissie entra na água e então se transforma na primeira vítima.

Muitas outras diferenças existem, mas eu seria um tremendo desmancha prazeres se tirasse esse gostinho de quem veio aqui e vai querer descobrir essas diferenças por conta própria. Vai por mim, é bem divertido tentar... (leia o livro, depois veja o filme) 

O filme foi distribuído pela Universal Studios e teve um orçamento de (dinheiro que foi gasto na produção) $9 milhões (filme caro pra época) e sua bilheteria (lucro) rendeu $470,653.000,00 (excelente resultado!).


 

Curiosidades

Tubarão (Jaws - 1975)


Foi pensado para ser um filme de terror diferente de tudo já visto no cinema. Um filme onde o "serial killer" (apesar do tema ainda estar longe de estar esgotado à época) era um animal irracional que despertava ódio e fascínio ao mesmo tempo. Como odiar um animal irracional que só havia encontrado um lugar com águas calmas e de temperatura agradável além de ter alimento abundante? O bicho só havia encontrado um "oásis"... como odiar? Os comerciantes o odiavam bem. 

 Por se tratar de um "animatronic" (figura mecânica que representava o tubarão) e "viver" quebrando a todo instante, o tubarão passou a aparecer menos do que os idealizadores da obra gostariam. Já que "Bruce" (sim, esse era o nome do animatronic... chamavam-no de Bruce... "Tragam o Bruce para o set!") quebrava com frequência por ter que ficar boa parte do tempo dentro d´água, tiveram que adaptar as coisas no roteiro. Cenas onde o tubarão apareceria de fato atacando foram substituídas pela sugestionabilidade, ou seja, a câmera se aproximava da vítima e você tinha o ângulo de visão do tubarão e com o auxílio da reação da vítima somada à trilha sonora do brilhante John Williams você cria o ataque na sua cabeça. 

 Com isso perdeu-se muito do terror, mas com tomadas onde a câmera passeia dando a entender que aquilo é (e nem sempre era) um ataque, o filme ganhou muito em suspense e se tornou um filme muito mais refinado.  

Para a seleção de elenco, Spielberg não queria atores muito consagrados. O diretor queria causar nas pessoas a sensação que aquilo que acontecia no filme pudesse acontecer com qualquer um. Um elenco pouco conhecido acaba aproximando o público da trama, criando-se um vínculo de empatia, disse o diretor em uma entrevista certa vez. 

Música 

 Música tema criada por John Williams como descrito acima, mas com uma história interessante. 

 A música tema do filme ganhou o Oscar de melhor trilha sonora original e posteriormente foi considerada a 6° maior trilha sonora da história do cinema pela American Film Institute. Trata-se de uma composição baseada em apenas duas notas (trecho da trilha executada nos momentos  de clímax onde acontece a provável presença do tubarão) alternadas E (Mi) e F (Fa) e virou sinônimo de perigo próximo. John Williams teria descrito o tema como "esmagando caminhos até você, como um tubarão faria... instintivo, implacável, imbatível."

A trilha foi executada pelo tubista Tommy Johnson que teria perguntado a John Williams porque a trilha, composta em tom mais alto, não foi executada em um trompete, que seria mais apropriado e John lhe disse que queria um efeito mais ameaçador. Quando Steven Spielberg recebeu a trilha, ele achou que aquilo fosse uma piada.

O certo é que a trilha além de primorosa no seu todo, é brilhantemente atrelada ao foco de sua intenção (o tubarão) e é acionada quando necessário e silenciada em seguida, unindo-se para sempre ao animal. Impossível ouvi-la sem se lembrar do filme. 


Elenco

  • Roy Scheider.... Martin Brody
  • Robert Shaw.... Quint
  • Richard Dreyfuss.... Matt Hooper
  • Lorraine Gary.... Ellen Brody
  • Murray Hamilton.... Larry Vaugh
  • Carl Gottlieb.... Meadows
  • Jeffrey Kramer.... Hendricks
  • Susan Backlinie.... Chrissie Watkins
  • Chris Rebello.... Michael Brody
  • Jay Mello.... Sean Brody
  • Jeffrey Voorhess.... Alex Kintner
  • Steven Spielberg.... voz do rádio


Tubarão e dinheiro

Apesar de expor o animal de forma negativa, colocando sobre ele uma pecha de vilão que nunca lhe coube, tubarão trouxe muito lucro aos detentores dos direitos relacionados ao nome da produção. Virou uma franquia com 4 filmes (do contexto original), mas uma gama interminável de produtos relacionados aos filmes que vão de camisetas, bonecos, jogos, etc... 

Inúmeras "cópias" vieram a seguir, mas nada tão emblemático quanto o original, o primeiro, o único.  

 Ao lado uma imagem feita aqui em casa. Na imagem temos um Funko Pop de Bruce "mascando"  Quint, cena final do filme (oque é diferente no livro... leiam...  😁), um livro em capa dura lançado em 2015 (e comprado na mesma época) pela editora DarkSide (os caras são ótimos, e isso nem é merchan) e uma lata comemorativa lindíssima com um o filme em bluray, uma cópia digital, um dvd com horas de extras, um livreto recheado de fotos históricas de bastidores e um uma cópia do story board do filme!! Maravilhoso! Peguei numa oferta inacreditável na época uns R$20,00 (SÓ VINTE CONTOS, MANO!!! 😮) e eu precisava mostrar isso pra vocês, por isso esse pequeno apêndice. 😇



Pra finalizar...

Tubarão foi um filme muito bem feito de todos os pontos de vista. Roteiro, efeitos especiais, direção, música, atuações... tudo perfeito! Tenho uma relação especial com esse filme pois nasci e me criei em uma cidade litorânea e quando era criança (início dos anos 80) o filme ainda exercia grande fascínio nas pessoas. Cresci com meus primos mais velhos tentando me assustar gritando "cuidado com o tubarão!" e eu realmente tinha muito medo!  

Umas das primeiras experiências que tive com filmes de tubarão foi com um filme que nem pertence à franquia, era um filme chamado "O último tubarão" (L´ultimo squalo _ 1981) um filme que só depois de adulto descobri que era italiano. Esse filme passava muito no SBT (canal de tv) e aos domingos havia na grade de emissora um espaço chamado "Sessão das Dez" que começava após o "Show de Calouros" (programa apresentado por Silvio Santos) no início dos anos 80. Um filme era exibido e ao terminar esse mesmo filme era repetido na íntegra. 

 Me lembro de ter visto "O Último Tubarão" duas vezes seguidas na Sessão das Dez. 

Muitos filmes com essa "pegada" foram aparecendo... Alligator (filme de 1980 onde um crocodilo era jogado ainda filhote no vaso sanitário e deram descarga em seguida. O bicho foi parar nos esgotos onde cresceu e depois de adulto passou a se alimentar de pessoas), Piranha (filme de 1978 que conta como uma experiência do exército americano que modificava geneticamente esses peixes, e que por acidente teriam sido soltas num rio na região norte dos EUA... esse em especial, chamou a atenção de um dos assistente de Spielberg que teria o aconselhado  a ver o filme e tomar providências jurídicas por plágio. Spielberg teria visto e acabou rindo e desistindo. deixou pra lá...) mas nenhum deles teve o mesmo impacto... creio que a trilha sonora tenha sido sem dúvidas o maior diferencial entre todos. Lógico que Jaws sempre foi superior, mas quando você começa a ver muita coisa parecida tentando imitar algo que fez muito sucesso, isso acaba te cansando do tema, inclusive do original. Mas Jaws é pra mim o maior e melhor filme desse nicho já produzido. 🦈



 


 

terça-feira, 19 de março de 2024

#3 - Halloween (1978)


Halloween

Na noite de Halloween de 1963, o pequeno Michael, fantasiado de palhaço, entra em casa e vê sua irmã Judith com um rapaz. Ele espera o rapaz ir embora e vai até o quarto de sua irmã e a assassina a facadas. Assim começa o filme Halloween de John Carpenter e Debra Hill, com uma tomada única com visão em 1° pessoa já mostrando a que veio.

Concebido de maneira independente, Halloween foi um filme original em muitos sentidos. Com um baixo orçamento, mas com muita foça de vontade, John Carpenter e Debra Hill conseguiram criar uma franquia extremamente lucrativa que traz um dos maiores ícones do gênero "slasher", Michael Myers. Hoje vamos conversar um pouquinho dobre isso. 




Sejam bem-vindos(as) ao canal Hellviews 

( www.youtube.com/@hellviews ) venha conhecer e se inscreva!! 


sábado, 16 de março de 2024

#2 - Cemitério Maldito (Pet Sematary)

 

"O Cemitério" é um romance escrito pelo aclamado mestre do terror moderno Stephen King. Livro lançado no início dos anos 80 e ao final dessa mesma década, teve o mesmo destino de tantas outras obras deste autor... o cinema! 


 O livro... (sem spoilers... tá bom vai... tem só um pouquinho... mas é bem pouquinho... 😅)

 Assim como acontece normalmente, o livro é mais completo e detalhado que sua adaptação para tv ou para o cinema, uma vez que muito do que é dito e do que acontece ali, seria certamente cortado das produções audiovisuais. Algumas mudanças podem ser percebidas já desde o início, como uma personagem sendo descrita como uma solteirona amargurada que comete suicídio por estar muito doente (filme) ocupando o lugar de uma jovem casada que vez por outra se prestava a cuidar das crianças para que o jovem casal Creed puder ter alguns momentos de mais privacidade (livro), ou uma Sra Crandall (livro) que no filme sequer é citada, reduzindo assim bastante a interação entre a família Creed e a familia Crandall, limitando assim a amizade entre Louis Creed e Jud Crandall, porém a fidelidade do filme ao livro é muito grande e perfeitamente compreensível, uma vez que a adaptação foi feita pelo próprio Stephen King (ele assina o roteiro do filme).

Breve sinopse do (livro - com um "pouquinho" de spoiler 😅):

A universidade de uma pequena cidade no estado do Maine, E.U.A contra um médico para atender seus alunos em seu ambulatório, pois o ano letivo está para começar, Dr Louis Creed, fugindo da agitação de Chicago em busca de um lugar mais tranquilo para viver com sua família, aceita se mudar para começar uma nova vida. Ao chegarem no novo lar fazem amizade com um simpático vizinho chamado Jud Crandall que os alerta para os perigos da estrada, por onde atravessam caminhões dia e noite em altíssima velocidade. Logo no primeiro dia de trabalho no ambulatório da universidade, um jovem da entrada carregado por outras pessoas mortalmente ferido, o Dr Creed faz o possível para tentar salvá-lo, mas não consegue. Seu nome era Victor Pascow. Há um enorme alvoroço em cima de Louis que começa a dar ordens para que alguns procedimentos padrão comecem a ser realizados e como num passe de mágica, Louis e Victor (ou oque sobrou dele) são deixados à sós. Vitor já fizera sua passagem, mas Louis sem saber ao certo oque está acontecendo, sente uma mão fria segurara-lhe o braço e então vê Victor olhando para ele e dizendo: "O coração de um homem é mais emperdernido, Louis... Um homem planta oque pode e cuida do que plantou..." 

 Num belo dia, Jud Crandall mostra aos Creed uma parte de sua propriedade que os donos recém-chegados ainda não conheciam, o cemitério de animais que ficava a alguns quilômetros ao fundo da casa. Ao chegar no lugar, Jud conversa com Ellie, filha mais velha de Louis e Rachel Creed, sobre o motivo da existência daquele lugar e sobre a naturalidade da morte. Rachel fica incomodada e até mesmo ligeiramente agressiva e mais tarde, após a filha chorar copiosamente por medo de perder  Winston Churchill (seu gato, chamado mais intimamente de Church) durante uma conversa com o pai, Rachel tem um forte embate com Louis sobre aquele lugar visitado durante a tarde. Louis não entende o porquê de tamanha repulsa de sua esposa pelo tema, mas tenta dissipar a tempestade. 

Certa noite Louis acorda de súbito e ouve barulhos em sua casa. Louis se levanta para ver oque era e é surpreendido pelo espírito de Victor Pascow. Victor pede a Louis que o siga e , certo de se tratar de um mero pesadelo, se põe a acompanhar a luminosa figura que vaga pelos caminhos que levam ao cemitério de animais. Ao chegarem no cemitério, Victor adverte Louis, para jamais transpassar a barreira  que leva ao lugar onde os mortos caminham. Louis então se desespera e pergunta porque Pascow estava fazendo aquilo com ele... Pascow responde que Louis tentou ajudá-lo e que agora ele estava retribuindo.

  Algum tempo depois, Rachel, Ellie e Gage (o bebê do casal que ainda não fora citado, mas que tem suma importância na trama) viajam para Chicaco para passarem o feriado de Ação de Graças com os pais de Rachel, mas não sem antes que Ellie recomende a seu pai que tome conta de Church, para que nada aconteça a seu melhor amigo. Nesses dias de feriado, assim como Louis fazia às vezes, Louis foi visitar seu amigo Jud e juntos tomavam várias cervejas e conversavam bastante, às vezes acompanhados por Norma Crandall, a senhora simpática que era esposa de Jud, e que sofria de dores horríveis causadas pela artrite. 

 Um dia Louis foi acordado por Jud e recebeu uma notícia que ele realmente não esperava. Jud o chamou pra ver se o gato morto em seu gramado era Church, o gato de sua filha Ellie. Louis reconhece o animal e transparece toda a sua preocupação por não saber oque dizer a sua filha. Ellie não sabe lidar direito com a morte e então Jud resolve dividir um segredo com Louis... 

Jud diz a Louis que recolha o gato em um saco de lixo, pega uma pá e uma picareta e pede que o acompanhe, estão rumando em direção ao cemitério de animais... Chegando no cemitério, Louis pergunta como faria para enterrar Church, se respeitaria os círculos que lá já estavam e davam forma peculiar ao lugar (túmulos dos animais eram dispostos formando grandes espirais) e disse ainda que se Ellie fosse ali, poderia descobrir que Church está morto... Jud então diz a Louis que Church não seria enterrado ali, mas além da barreira que separa o cemitérios de animais do bosque que levava a um solo sagrado. O lugar onde Victor Pascow proibiu Louis de ir... O cemitério da tribo Mic Mac, no alto da montanha, depois da barreira...

Daqui pra frente, o resto da estória, se você ainda não leu o livro mas viu o filme, você já conhece, mas não com riqueza de detalhes que Stephen King descreve em seu romance, então sugiro que se você tiver oportunidade,  leia-o, é incrível!! 😊


O livro e o filme (1989):  

 Ahhh agora sim pode ser que tenhamos alguns spoilers... mas poxa vida, o filme é de 1989, todo mundo já viu, vai?! 😅

 Existem algumas diferenças mas nada que chegue a descaracterizar a obra original. Como citado acima, temos mudanças em personagens secundários que quase nem aparecem ou com quem ninguém se importa, ou ainda a ausência de outros que não interferem em nada no rumo da trama. 

No livro percebemos que Stephen King é grande admirador da banda Ramones, pois cita inúmeras vezes no transcorrer do romance uma frase muito usada por Joey Ramone, vocalista da banda. "Hey Ho Let´s Go!" Sem contar que vez por outra o Dr Creed ouve ou cita canções da banda e chega a se registrar em um motel com o nome de Dee Dee Ramone, baixista e letrista da banda. Se Stepehn King não fosse tão fã da banda não deixaria isso tão evidente... e sim, o escritor se revelou fã dos caras! No filme temos também músicas da banda. Ouvimos um caminhoneiro da Orinco escutando "Sheena is a Punk Rocker" momentos antes de atropelar Gage, sem contar a música tema "Pet Sematary" composta pela banda especialmente para o filme! (Sim, o nome da música é escrito errado como na placa que indica o nome do lugar).

No livro, Jud mora com sua esposa na casa do outro lado da estrada, em frente à casa dos Creed, no filme Jud já era viúvo, oque só ocorre mais adiante no livro. A Senhorita Dandridge no filme é uma diarista que ajudava a Senhora Creed com os afazeres domésticos. No filme a Senhorita Dandridge é uma solteirona amargurada que inveja a Senhora Creed por ter um marido médico. Ainda no filme, a Senhorita Dandridge reclama de dores no estômago e acaba se matando por não suportar mais as dores causadas pelo que ela descobriu ser um câncer. No livro, a Senhora Dandridge é uma jovem casada que vez por outra fica com as crianças dos Creed para que eles tenham alguns momentos de privacidade. Aqui eu gostaria de expor o arranjo bem feito entre livro e filme. Há uma mudança?! Sim, há! Mas é algum arranjado propositadamente para que não haja buracos na trama. Quando Jud aparece já viúvo (ou também solteiro, já que no filme não fica claro), ele não perde a esposa, mas no livro o funeral de Norma Crandall sereve para que Ellie tenha algum contato com "oque é a morte" e como isso é possível se Norma não existe no filme? Como dito acima (láááááá em cima...) o autor do script do filme é o mesmo autor do livro, o próprio Stephen King, e ele então arranjou a situação da seguinte forma: Uma vez que Norma fora cortada de filme, o autor adaptou a personagem de Missy Dandridge, transformando uma jovial babá casada e feliz que de vez em quando cuidava de crianças, em uma amarga diarista solteirona acometida de uma doença que lhe drenava a vida à conta-gotas...  O funeral que Ellie vê no livro é de Norma, no filme é o de Missy. Muito bem amarrada a estória!! 

No livro podemos notar maior proximidade  e cumplicidade no casal Creed. As personagens discutem, brigam, se reconciliam, transam, brigam de novo por bobagens e se parecem mais com um casal, ao menos enquanto a trama permite, já no filme, os Creed são um casal bem sem sal... No livro há mais paixão entre as personagens do que no filme, e aqui cito a opinião quem escreveu o original. Stephen King. King disse em uma entrevista que não teria gostado muito da adaptação de "Pet Sematary" para o cinema exatamente pela falta de cumplicidade entre o casal Creed. Para King teria faltado mais paixão por parte dos atores Dale Midkiff (Louis Creed) e Denise Crosby (Rachel Creed). Cenas como a da morte de Gage e a briga entre Louis e seu sogro Irwin Goldman (Michael Lombard) realmente pediam mais emoção. 🙄



O "cimitério de animais"

 No Brasil o livro foi lançado com o nome de "O cemitério" e o filme chamado "Cemitério Maldito" (creio que tirado de uma fala de Rachel Creed, quando se referia ao lugar, depois de ter ido pela primeira vez) e no original (tanto o livro quanto o filme) saíram com o nome de "Pet Sematary" (com a grafia errada assim como na placa que existe na entrada e serve de identificação do lugar).
Apesar da obra levar o nome do lugar onde as crianças depositavam seus amigos animais, oque realmente domina a trama é há além da barreira que limita o cemitério de bichos. Há muitos anos havia ali uma tribo indígena chamada Mic Mac (Os Mic Mac ou Mi´kMac são um grupo étnico indígena do leste do Canadá. Foram os primeiros povos a habitarem a região atlântica do Canadá e são falantes do grupo Wabanaki da família linguística algonquiana e falam a língua Mi´kmag como dialeto próprio) e eles ocupavam toda aquela terra. Os índios Mic Mac costumavam enterrar seus mortos no alto de uma montanha em rituais característicos de sua etnia, mas algo aconteceu... o solo sagrado do cemitério Mic Mac teria "azedado" . O solo teria sido profanado por uma criatura conhecida como "Wendigo" ( Wendigo ou "Winddsgvigo" ou ainda wetiko é no folclore algonquiano, uma criatura devoradora de seres humanos, ou espírito maligno nativo nas florestas do norte da costa atlântica e da região dos Grandes Lagos dos EUA e Canadá).
A lenda diz que o Wendigo teria tocado aquele solo e o teria apodrecido, e desde então, nunca mais ninguém ousara enterrar seus entes queridos naquele lugar. Mas há ainda uma história contada paralelamente que diz que em um inverno extremamente severo, os animais fugiram e toda a plantação foi destruída e a tribo teria ficado sem nada para comer, levando-os ao canibalismo, se alimentando dos membros enfraquecidos de sua própria tribo. O comportamento da tribo teria despertado a ira dos espíritos da floresta que teriam amaldiçoado a tribo, fazendo com que abandonassem o lugar. 
No livro o lugar tem o poder de atrair suas vítimas. Com os Creed, o lugar teria atraído Louis pela necessidade de evitar que sua filha sofresse com a perda de seu gato. O gato volta "diferente", mas de forma "aceitável", tanto que Louis pensa seriamente em enterrar o próprio filho naquele lugar, pois se Gage voltasse como Church, para Louis era só eles se mudarem para um lugar onde ninguém os conhecessem e poderiam começar uma nova vida com toda a família novamente. O lugar passa a se alimentar também da sanidade e do amor que Louis nutre por sua família e, como se não bastasse o domínio exercido, o lugar também "dá um jeito" para que "seus planos" não sejam atrapalhados. No filme esse fascínio existe, mas de forma mais discreta... não fica tão explícito.  


Elenco do filme (1989)

atores/personagens

Dale Midkiff - Louis Creed

Fred Gwynne - Jud Crandall

Denise Crosby - Rachel Creed

Brad Greenquist - Victor Pascow 

Michael Lombard - Irwin Goldman

Miko Hughes - Gage Creed

Blaze Berdahl - Ellie Creed

Susan Blummaert -  Missy Dandridge 

 Mara Clark - Marcy Charlton 

Kavi Raz - Steve Masterton

Mary Louise Wilson - Dory Goldman

Andrew Hubatsek - Zelda (sim, foi interpretada por um homem)

Matthew August Ferrell - Jud (criança)

Lisa Stathoplos - Mãe de Jud 

Stephen King - Padre no funeral (sim, o próprio Stephen King, o autor)

Elizabeth Ureneck - Rachel criança

Chuck Courtney - Bill Baterman


Pequeno "Post Scriptum": 

1° -O ator que interpretou o velho Jud Crandall em "O Cemitério Maldito"é Fred Gwynne. Ele teve uma carreira longa na tv e no cinema, mas só muito recentemente descobri (sim, eu não sabia desde sempre... "mindisurpi"😅) que é o mesmo ator que interpretou Herman Munster, da série de tv "The Munsters" (no Brasil, Os Monstros) e por aqui passava no SBT de meados dos anos 80 a início dos anos 90.

2° - Durante as filmagens furam usados dois gatos muito parecidos, porém de personalidades opostas sendo um extremamente dócil, usado nas cenas com Ellie e outro muito arisco, que foi usado para as cenas onde o gato já havia voltado. Miko Hughes (Gage) em momento algum foi exposto a qualquer perigo nas filmagens. Nas cenas mais mais perigosas como a do atropelamento e nas cenas em que luta com Jud e com seu pai, usaram um boneco.

3° -Existem ainda Pet Sematary 2 (filme de 1992 que pra mim é só um filme "ok") e um remake desse filme (1989) lançado em 2019, que também tem uma resenha aqui, disponível (tive que ver essa... esse,,, isso,,, só para poder fazer a resenha para vocês, por gentileza, reconheçam meu sacrifício lendo a tal resenha, Obrigado... embora ninguém tenha pedido... 😂) e um filme de 2023 chamado "Cemitério Maldito a origem" (nunca vi, desculpem mas não posso opinar 😅)






Remake...

 Cemitério Maldito - Remake ☠ (2019)

Alguns filmes ficam inscrustrados em nossa memória e nos remetem a lembranças de algo muito bom, outras vezes nem tanto... se uma obra possui esse potencial, há de se ter muito cuidado do que é feito dela no caso de alguém tentar recriá-la de alguma forma. No caso de Cemitério Maldito eles deveriam simplesmente não ter feito... Para fazer oque fizeram com a trama seria melhor que os redatores tivessem criado algo novo e chamado por outro nome, seria mais digno.

 Mudaram tanto, mas mudaram tanto... mas tanto... que se você chamasse esse filme por outro nome, para quem gosta do livro ou do primeiro filme e chega no meio deste sem nunca tê-lo visto antes, é capaz da pessoa acreditar que se trata de outra coisa qualquer, não de Cemitério Maldito. 

Mais um pouquinho de mudanças e seriam trocados até os nomes das personagens, ou nem mesmo o nome de Stephen King apareceria nos créditos. Tiraram até as músicas dos Ramones da trilha sonora!! Imperdoável!  Nos créditos finais há uma versão medonha (no pior sentido) de "Pet Sematary" tocada por uma outra banda...  Creio que ao menos a versão original poderia ser mantida, afinal, qual o problema com Ramones (além dos direitos autorais), não é?! 

Mas... O que Stephen King disse sobre o filme?

 Comecemos pelo começo. Stephen King já não havia gostado da primeira adaptação feita em 1989, por achar que faltava aos Sr e Sra Creed aquela química característica de um jovem casal que acabara de se mudar em busca de uma vida mais feliz longe da agitação da cidade grande, ou seja, Stephen King não gostou das atuações de Dale Midkiff (Louis Creed) e Denise Crosby (Rachel Creed), por não acreditar em suas interpretações e pela falta da profundidade que as personagens exigiam. 
Com relação à adaptação de 2019, Stephen King se diz um pouco mais satisfeito, ele não se incomoda com as mudanças e gostou mais da atuação dos atores. O fato da mudança em relação à morte por atropelamento de um dos filhos do casal Creed, vítima de um dos caminhões da "Orinco" que passam a toda velocidade o tempo todo pela estrada, foi bem recebida pelo autor. Stephen pondera que seria muito mais fácil trabalhar com uma garotinha como zumbi no lugar de um bebê.   

Se o autor gosta mais desta versão, por que tanta gente achou o filme ruim?! 🤔

Aqui deixo minha opinião, ok?! Assim como fiz no texto acima. 

O filme tem uma fotografia muito legal, cenários bem sombrios (mais até que o original), mas senti falta dos "momentos felizes", no filme original você é transportado para dentro do livro e vice-versa, oque é impossível nesse remake, uma vez que a trama foi tão "violentada" que oque resta beira o "irreconhecível", sem contar a quantidade de "jumpscares"... é enorme! "Jumpscare" é um recurso usado em excesso quando o roteiro é fraco e você precisa apelar para provocar alguma reação no público. Eu O-D-E-I-O "jumpscares"! 🤢🤮🥱

 Ok, então o que são "jumpscares"?! 

É um recurso usado normalmente em filmes de terror/suspense (principalmente nos mais recentes), cujos roteiros pobres requerem deste artifício para causar reações de susto no espectador. Pode ser, por exemplo, um objeto que cai sobre uma vítima potencial, acompanhado por um barulho totalmente desproporcional aos áudios do restante do filme, sendo equivalente ao próximo "jumpscare"., que certamente não demorará a acontecer. São previsíveis e muito sem graça... E meu deus, como esse filme tem essa...  💩...

 Quer um exemplo de cena de susto bem feita? Ok, pega lá Tubarão (Jaws - 1975) uma cena em que o chefe de polícia Brody e o biólogo Matty Hopper saem de barco à noite em busca de pistas do tubarão e encontram um pequeno barco à deriva. Matty Hopper decide ver de perto oque houve, coloca seu equipamento de mergulho e desce com uma lanterna. Ele encontra um dente enorme de tubarão branco cravado num pedaço destruído do casco do barco e enquanto se esforça para retirá-lo de lá, o corpo do pescador rola para o lado e aparece no buraco no casco do barco como quem diz "olá!"... sem qualquer agressão aos ouvidos e olha... assusta pra caramba! Funciona muito bem e a cena é impecável! É uma cena com a assinatura de ninguém menos que Steven Spielberg (nem é preciso dizer mais nada...) voltando... 

Não gostei também desse filme porque aqui nesta versão você não tem o vínculo que se cria entre Jud e Louis, uma relação quase paternal... pode não ser nada para quem não liga muito para a trama, mas faz muita falta, assim como fazem falta também as explicações dadas pela metade pelo velho Jud Crandall sobre o cemitério de animais e principalmente sobre o cemitério indígena, onde acabam enterrando Church no início. 

 Se você gostou dessa versão, então não somos mais amigos!! (Tô brincando...(🤣🤣😅) Bom, ok... mas você já leu o livro?! Procure lê-lo e revisite o filme de 1989, e se mesmo assim você preferir este filme (de 2019), talvez você já tenha sido enterrado(a) no cemitério Mic Mac e não saiba... (tô brincando de novo... 🤣🤣🤡 cada um gosta do que quiser, isso é só a minha opinião...😉 )

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