Hoje terminei (finalmente) a deliciosa leitura de um livro de Thomas Harris chamado "O Silêncio dos Inocentes" (Silence of the Lambs), lançado em 19 de maio de 1988 e que deu origem ao filme de mesmo nome, este lançado
em 1991.
Recentemente revi o filme para poder traçar uma espécie de comparativo entre as duas obras porém me deparei com outra coisa mais interessante.... Claro que como sabemos, os livros normalmente são mais ricos na sua descrição e no desenrolar de suas tramas, mas a forma como um tema que hoje é muito mais amplamente debatido que na época, apesar de levemente tratado no filme acaba deixando a desejar. Me refiro ao tratamento dado à jovem cadete da academia do F.B.I. Clarice Starling. Sabemos que para que o filme pudesse ser mais fiel à obra original, deveria ter pelo menos umas 3... 3 horas e meia... mas seria vencedor de ainda mais categorias do Oscar. Sejamos mais claros...
No filme, um espectador menos atento dá ao Dr Hannibal Lecter um papel de destaque maior que o merecido pois é assim que ele é retratado. Hannibal age como se estimulasse Clarice a desvendar o paradeiro de Búfalo Bill, dando a ela pitadas de um raciocínio que o filme dá a entender que Lecter a ajuda a construir em troca de informações pessoais da vida de Clarice (quid pro quo) e também pela promessa de que sua situação como paciente da ala psiquiátrica de um presídio de segurança máxima pudesse ser, dentro do possível, atenuada.
No livro fica claro o tempo todo que a personagem principal da trama é a nossa heroína Clarice Starling, que apesar de ser uma estudante ainda em formação, foi capaz de descobrir o paradeiro de Búfalo Bill e sua próxima vítima, a tempo de salvá-la.
No livro Hannibal é revelado como um engodo que desde o início sabia quem era o criminoso por trás do esfolamento de mulheres, mas se divertia com Clarice dando a ela pistas que a levariam a compreender o caso desde o início, em vez de lhe adiantar informações mais precisas de quem era o criminoso cujo nome ele já conhecia: Jame (erro de cartório assim como o que tenho em meu próprio sobrenome) Gumb.
Mas por que Clarice não teve no filme o mesmo valor que no livro?
Aqui é uma humilde opinião de quem acaba de soltar o livro após lida as últimas linhas para escrever esta resenha... Nada os impede de ler o livro e (re)ver o filme para que possam inspirar suas respectivas opiniões, ok?!
Clarice é uma jovem que perdeu o pai muito cedo e foi morar com parentes numa fazenda que cuidava de animais abandonados que mais tarde eram abatidos para que de sua carne fossem feitos sabão, detergente e até ração para animais domésticos. Clarice fugiu de lá com uma égua chamada Hanna (que era quase cega e no filme trocam o animal para uma ovelha, justificando assim o nome do filme, já que a última passagem do livro não existe na obra cinematográfica). Depois de descoberta, Hanna foi enviada para um abrigo onde foi utilizada para puxar carroça levando crianças até o fim de seus dias... foi o melhor que Clarice pode fazer por sua amiga.
Clarice sempre se apoiou nos estudos e sempre passou por inúmeras dificuldades, mas ao entrar para academia do F.B.I., ambiente amplamente masculino, Clarice passou também a ter que lidar com o assédio em muitos níveis. Clarice Starling tinha sempre as melhores notas de sua turma, mas isso não bastava, ela precisava sempre se impor, mas de forma suave para não parecer arrogante. Seu desempenho chamou a atenção de Jack Crawford, um renomado agente do F.B.I encarregado da Unidade de Ciências Comportamentais que vê na jovem Starling um talento incomum e a recruta para trabalhar no caso do Búfalo Bill.
Clarice é muito mais humanizada no livro, onde ela enfrenta o assédio de policiais, assédio do Dr Chilton (responsável pela custódia de Lecter) que depois da negativa de Clarice, passa a dificultar as coisas para ela. Há também um momento que Crawford a expõe propositadamente ao constrangimento frente a policiais (todos homens) mas Clarice se sai bem (cena bem retratada no filme, inclusive).
Clarice é submetida ao Dr Lecter que tenta entrar em seu subconsciente sendo hora gentil, hora desagradável, mas Clarice está sempre forte... (ao menos na frente dos outros... como geralmente as mulheres fazem... choram de ódio longe do alcance das vistas de quem as maltrata). Clarice Starling é também no filme a heroína, mas tem seu protagonismo ofuscado pela personagem do "brilhante" Dr Hannibal Lecter... mas no livro entendemos como as coisas realmente funcionaram.
Romance policial com muito mistério e cheio de ação e reviravoltas, para quem gosta do tema e gosta de se apegar a personagens fortes é um prato cheio. Fica a recomendação. :)
Sobre o filme
Lançado em 1991, concorreu ao Oscar em 1992 vencendo nas seguintes categorias de:
Melhor Filme
Melhor Diretor: Jonathan Demme
Melhor Atriz: Jodie Foster
Melhor Roteiro Adaptado: Tedy Tally
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