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terça-feira, 6 de agosto de 2024

#5 - O Monstro da Lagoa Negra: Creature from the Black Lagoon - 1954



O último monstro clássico a entrar para o panteão dos imortais e atemporais monstros dos estúdios da Universal, o filme de 1954 tem muitas camadas além das quais muito possivelmente você já saiba e, hoje é disso que falaremos. 

 Seja bem-vindo(a) ao meu blog, o "Brog do Pabro"!!

Breve sinopse:

(E bota breve nisso...😅)

Na Amazônia brasileira o pesquisador Carl Maia descobre uma nadadeira fossilizada de um espécime desconhecido. Após reunir informações, Carl viaja para conseguir verbas para pesquisar sobre sua descoberta e ao retornar ao local onde ela aconteceu, seus ajudantes haviam desaparecido. O fóssil se revela  um possível elo perdido entre homens e anfíbios. 

 O pesquisador ruma com sua equipe para um lugar mais reservado daquela região, conhecido como "Lagoa Negra", onde retoma sua pesquisa e acaba por encontrar uma terrível criatura.  (Não daremos "spoilers" sobre o filme, sugiro que o veja pois é um clássico que vale muito a pena!

                                                                                                                                                                      



                                               (arte original de divulgação do filme - Pôster)  
O Mostro da Lagoa Negra foi um filme que trouxe a Universal Studios de volta às origens. Depois de praticamente esgotar o tema "Monstros" após anos explorando o gênero com "coisas" como O filho de Frankenstein (1939), Frankenstein encontra o Lobisomem (1943) e etc... e com isso ver sua bilheteria reduzir a cada lançamento, A Universal havia passado por mudanças que levaram a empresa a ter novo foco. Depois de se unir à Decca Records em 1946, na verdade a Universal foi comprada pela Decca e começou a se chamar Universal International e ter uma profunda reestruturação, a Universal Studios passou a produzir majoritariamente longas do gênero Drama e Drama romântico. Aos poucos a Universal Studios voltou a recuperar a essência de seu DNA e resolveu voltar a investir em filmes de Monstros. Filmes ligados à ficção científica/horror voltaram a ganhar espaço entre seus lançamentos. Guerra entre Planetas (1955), O Planeta Proibido (1956) entre outros... e foi "O Monstro da Lagoa Negra" (Creature from the Black Lagoon) que teve o maior destaque.
 Com roteiros de Harry Essex, Arthur A. Ross e Maurice Zimm, o filme tinha no elenco a atriz Julie Adams (elenco completo no final da postagem), cuja beleza servia como atrativo para levar o público masculino aos cinemas. Na época (e até hoje em dia... infelizmente...) as mulheres eram escaladas para certos papéis não prioritariamente por seu talento, mas por sua beleza. No caso da "Criatura", a beleza da jovem Kay Lawrence (papel de Julie Adams) acaba influenciando diretamente na trama, causando na "Criatura" sua paixão "platônica". 
 Mas o filme traz também uma "personagem" muito interessante e que sequer aparece em frente às câmeras... falaremos dela em breve. 😉  

                                                                                                                                                                     

Origem...




 A ideia para a criação de um roteiro para o filme "O Monstro da Lagoa Negra" surgiu quando o produtor William Alland estava em uma festa durante as filmagens de "O cidadão Kane" (filme em que Alland interpreta um repórter) quando o cineasta mexicano Gabriel Figueroa lhe contou sobre o mito de uma espécie de homens peixes que, segundo este mito, habitavam o rio Amazonas. Daí nasceu um "tratamento" (rascunho que, se aprovado, é desenvolvido e acaba dando origem ao roteiro).
 O roteiro não foi escrito de imediato, aproximadamente 10 anos após ouvir sobre o tal mito dos homens peixes, William Alland passou a rascunhar anotações sobre uma história que era inicialmente intitulada "O  Monstro Marinho". 
 A ideia para a criação do tratamento/roteiro foi inspirada em contos de fadas como A Bela e a Fera e também em King Kong e consistia em um amor platônico entre uma criatura bestial e uma mulher humana. Um  filme de horror com pitadas de um "romance" entre criaturas de espécies diferentes onde você de certo modo torce ou ao menos se "compadece" pelo "casal" já não era novidade àquela época, mas é um tema interessante até os dias de hoje. Não à toa Guillermo del Toro dirigiu em 2017 o longa "A forma da água" em 2017, filme claramente inspirado em "O Mosntro da Lagoa Negra". 

                                                                                                                                                                  

A Criadora

 Era normal naquela época...
...que apenas o chefe de cada setor fosse creditado ao final de uma obra, juntamente com os atores e atrizes, logo não era comum que se soubesse o nome de cada pessoa envolvida na criação de cenários, maquiagens, figurino, continuidade, produção, etc... Isso fez com que durante muito tempo algumas pessoas levassem todo o crédito pelo trabalho duro de outras pessoas. Tá, sabemos que isso acontece muito ainda hoje em dia, em muitas empresas onde o chefe de seção muitas vezes recebe sozinho os louros das conquistas e repassa os esporros das derrotas, mas nos atenhamos ao que interessa... 
 Quando os chefes da Universal resolveram bancar a produção de "Creature from the Black Lagoon", começou-se a trabalhar no visual do monstro. Como deveria se parecer um monstro metade peixe, metade hominídeo?! A criadora desse e de alguns outros monstros foi Milicent Patrick. Milicent Patrick (Mildred Elizabeth Fulvia di Rossi), nascida em El Passo em 11 de novembro de 1915, filha de um competente arquiteto chamado Camile Charles Rossi e sua mãe era chamada Elise Albertina Bill. 
 Milicent Patrick estudou artes e trabalhou no setor onde se coloriam os desenhos nos estúdios Disney, depois de mostrar sua competência, foi promovida a animadora, sendo uma das primeiras mulheres a trabalharem lá, nesta função. Na Disney, Milicent trabalhou na animação "Fantasia". 
 No início dos anos 50, Milicent chegou à Universal em pequenos papéis como figurante e também trabalhando como maquiadora, e foi aí que ela chamou a atenção de Bud Westmore, chefe do departamento de maquiagem e membro do clã Westmore, uma família conhecida no show business pelo poder que tinham relacionado ao mundo dos penteados, maquiagem e beleza feminina no cinema. Bud teria visto Milicent trabalhando na maquiagem de atrizes enquanto supervisionava sua equipe e viu alguns de seus desenhos e gostou de seu trabalho.
 Para a criação da "Criatura" (O Monstro da Lagoa Negra), Milicent apresentou alguns desenhos que Westmore aprovou e mandou para o departamento de modelagem. Assim que a Criatura ficou pronta, Westmore assumiu para si todos os créditos pela criação. 
 Para divulgar o lançamento do filme que trazia de volta a Universal para o "universo terror" e ao mesmo tempo era uma promessa de se tornar um monstro clássico (oque se confirmou com o tempo), a Universal investiu pesado. Bolou uma campanha de divulgação por vários lugares do país! Banners, pôsteres, desfiles em carro aberto... e também resolveram explorar a imagem de Milicent e atrela-la aos bastidores. O pessoal do marketing resolveu realizar workshops onde Milicent contaria um pouco sobre a criação da Criatura, mas para isso precisaram falar antes com Westmore, chefe de Milicent. Westmore se sentiu ameaçado pois sabia que cedo ou tarde Milicent poderia reivindicar para si o justo reconhecimento pelo trabalho, mas acabou cedendo a pressão e a liberou por 2 semanas para viajar com a equipe. A turnê de divulgação se tornou um sucesso e foi ampliada, durando 2 meses!! Uma mulher linda e plena falando sobre sua criação com a autoridade de quem conhece e sabe do que fala! Não poderia ser melhor! Bolaram aparições da Criatura em rios onde eventos eram marcados mas sem avisar que a Criatura apareceria, Milicent tinha sempre a mão umas máscaras da Criatura que ela usava para explicar em palestras como ela havida sido feita. Quem não gostou nada foi Westmore. Mesmo tendo colocado um homem de sua confiança para vigiar Milicent e mesmo esse homem garantindo que Milicent jamais disse que ela havia sido a criadora de tudo aquilo, Westmore estava ferido em seu ego e decidido a tomar providências. 
 Westmore passou a falar de Milicent e diminuir sua importância e pediu a cabeça de Milicent sob condição de que caso ela não fosse demitida, Westmore iria embora com toda sua equipe. A Universal dava muito valor ao sobrenome Westmore, como uma "marca confiável" e acabou cedendo à chantagem desse homem mesquinho. Milicent retornou certa do sucesso de ter feito um excelente trabalho e ao retornar, foi demitida. Mesmo com a promessa de Westmore que a receberia de volta, após a turnê de divulgação do filme. Milicent ainda permaneceu fazendo pequenas aparições em filmes da Universal, mas o trabalho que ela tanto amava, ela já não tinha mais...  
 Quer conhecer a história dessa mulher incrível, muito a frente de seu tempo? Vida pessoal, romances, conquistas, dores... recomendo o livro "A Dama e a Criatura" de autoria de Mallory O´Meara (lançado aqui no Brasil pela Darkside Books). Um livro escrito de forma apaixonada de uma fã real da Criatura que acabou descobrindo a mulher por trás do monstro, atrás de uma pesquisa admirável e exastiva, mas que rendeu um resultado maravilhoso. Eu me apaixonei por Milicent assim que li o livro e adoraria ser amigo de Mallory O´Meara, deve ser uma pessoa muito bacana! 



Fotos da turnê de divulgação do filme "Creature from the Black Lagoon" Milicent Patrick com um esboço e também com uma máscara da Criatura. 

                                                                                                                                                                  


A Criatura


 Falamos um pouco sobre a origem da estória, sobre como a Criatura fora criada e também demos o devido crédito a quem de direito pela criação do visual do nosso "herói", então, vamos mostrar quem deu vida a ele! Não, ele não foi erguido por uma abertura no telhado em uma tempestade de raios e atingido por uma descarga elétrica que lhe trouxe à vida enquanto um cientista berra a plenos pulmões "It´s alive! It´s alive" (pegou a referência, né?! 😁😉
 Vamos mostrar quem interpretou a Criatura:
Para interpretar a Criatura em cenas "secas" (ou seja, fora d´água) foi utilizado o ator Ben Chapman e para cenas subaquáticas quem fez o trabalho foi Ricou Browning, que tinha muita habilidade para nadar e  usar a fantasia debaixo d´água, uma vez que a roupa se molhava e mais que dobrava de peso e a máscara tornava impossível o simples ato de enxergar. 
 Então o trabalho ficou dividido assim: Ricou Browning nadava muito bem e fez cenas na água, Ben Chapman tinha quase 2m de altura e era mais intimidador por ser enorme, fez cenas na terra. Bem escolhido. 



À esquerda temos Ben Chapman ao lado de Julie Adams (Kay Lawrence no filme) e à direita, Ricou Browning

                                                                                                                                                                  

Elenco

Julie Adams................................................................................................ Kay Lawrence 
Richard Denning........................................................................................ Mark Williams
Richard Carlson......................................................................................... David Reed
Antonio Moreno......................................................................................... Carl Maia
Nestor Paiva............................................................................................... Lucas
Whit Bissell................................................................................................. Dr Edwin Thom
Bernie Goziel............................................................................................... Zee
Henry Escalante........................................................................................... Chico


                                                                                                                                                                   


Com o passar dos anos, curiosidades, citações, homenagens e produtos que exploram a Criatura apareceram de muitas formas para todos os gostos e esse espaço ficou dedicado a alguns poucos itens. Bora conhecer?! 




 Em 1994, a Capcom (empresa de vídeo games) lançou um jogo do gênero "Luta" que trazia monstros que caiam na porrada entre si, cada um em busca de um objetivo próprio a ser revelado ao final do jogo, caso você conseguisse derrotar o último chefe. Havia um lobisomem chamado Jon Talbain, um vampiro chamado Demitri Maxmoff e mais um monte de monstros que não vêm ao caso (se você gosta de jogos de luta, da uma pesquisa no google, o joguinho é bem bacana e possui várias sequências), oque interessa aqui para nós é o fato de haver um homem-peixe que mora na Amazônia brasileira e seu nome é Rikuo!! Uma justa homenagem à Criatura e ao ator Ricou Browning. Eu gostei demais quando peguei a referência! 😊



 Com o passar do anos, a Criatura fez algumas aparições como esta no filme "Deu a louca nos Monstros (The Monster Squad - 1987). Nota-se mudanças em sua aparência, mas a Criatura se fez tão imponente da forma como fora originalmente criada que mesmo com mudanças, muito do original foi mantido. 



 Muitas empresas produziram action figures (hominhos, como diz uma amiga que gosta de me infernizar com isso 😡😂😂) da Criatura, então os fãs estão bem servidos de farto material. Empresas como a Funko, Neca, Mezco e essa da foto foi feito pela Diamond Studios. (A prancha não acompanha a figura, originalmente essa figura vem com um diorama e a figura de Kay Lawrence, conforme vocês verão mais à frente, na última foto postada aqui)


Eu particularmente já vi muita coisa no universo dos "colecionáveis" e itens raros de figuras de ação, mas essa aqui, Milicent e sua criação! Fizeram uma action figure desse momento!!  





                                                                                                                                                                    

Fontes de Pesquisa


 Na verdade eu nem posso chamar isso de pesquisa, o trabalho todo quem fez foi Mallory O'Meara ao escrever seu livro "The Lady from the Black Lagoon", nos trazendo uma biografia póstuma de Milicent Patrick, uma artista incrível que viveu muito à frente de seu tempo. Tudo que fiz foi sorver desse livro todo o conhecimento que ele pôde me oferecer e dar uma resumida boa para trazer para vocês, que gostam de saber um pouquinho de coisas de cinema, cultura pop e afins, um pouco do trabalho dessas duas. Milicent Patrick a artista e Mallory O'Meara , a escritora que nos proporcionou esse deleite. 
 Para quem quiser saber mais sobre Milicent, vou deixar o nome do livro (de novo, porque já fiz isso lá em cima): A Dama e a Criatura - Autora Mallory O'Meara, publicado no Brasil pela Darkside Books (www.darksidebooks.com.br) (Ah, nem é propaganda, tá?! É só dica mesmo. 😉)






 Autora do livro (Mallory O'Meara) e a capa original do livro





 Versão em português do livro lançado pela Darkside Books no Brasil em 2022 (livro e figura de ação de meu acervo pessoal )


 Esse foi o post do Brog do Pabro. Depois de um bom tempo sem postar nada, trouxe para vocês uma pitada de algo mais profundo que as águas turvas de uma Lagoa Negra ou mais horripilante que qualquer criatura que possa viver nessas águas, uma história real de uma luz apagada à força dentro de um ambiente que deveria ser de criação, celebração da arte e exaltação do belo. Uma história de uma mulher que deu sua importante contribuição ao mundo das artes e por ter mais talento do que seu mesquinho chefe pudesse suportar, fora tirada desse ambiente. Ah, o post traz também um pouco sobre o filme, mas esse assunto acaba servindo de pano de fundo para oque realmente importa: Os verdadeiros monstros somos nós, e o lamaçal onde nos enfiamos é o dia a dia em que vivemos.
 (lembrando que "nós" é uma forma de falar.😉) 
 É isso gente, espero que tenham gostado. 




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